logo RCN
Coluna das Artes

Semana de arte moderna: A semana que não terminou - Elisa Silva

  • Divulgação -

Na madrugada de 27 de janeiro de 1922 um movimento sísmico, como anunciavam os jornais da época, sacudiu a cidade de São Paulo e deixou sua população assustada e interessada. Será que o país "abençoado por Deus" estava sofrendo um terremoto? Por semanas esse foi o assunto dos jornais e das mesas dos botequins.
As teorias sobre o fenômeno natural foram suplantadas por um novo terremoto, mas este abalo não foi um fenômeno geológico e sim artístico. A semana de arte moderna sacudiu não só a cidade de São Paulo, mas o Brasil. Era a arte brasileira, enfim, assumindo uma identidade própria. Eram os artistas assumindo seu lado tupiniquim.

O diferencial da semana de arte moderna é que ela não foi uma mera repetição das vanguardas internacionais, até porque se assim fosse já teríamos esquecido esse evento, é justamente a inovação artística do modernismo que faz com que a semana de 22 seja até hoje o evento de arte mais importante do país.
O estopim para criação da semana de arte moderna foi a dura crítica de Monteiro Lobato a exposição de Anita Malfatti, foi esse fato que fez com que os jovens artistas se unissem e decidissem que era necessário discutir e promover o modernismo de forma coletiva.
Durante a semana de 22 foram expostos quadros e esculturas na entrada do teatro municipal de São Paulo, palestras e declamações foram realizadas no palco, bem como apresentações musicais. O que foi apresentado quase na sua integralidade tratava-se de experimentações das mais variadas vertentes.

Apesar de opiniões divergentes, foi a semana de 22 que inaugurou o modernismo no Brasil, movimento que foi marcado pela ausência do formalismo acadêmico, até então predominante, bem como por experimentações estéticas e temáticas nacionalistas e cotidianas.
É inegável que o modernismo brasileiro recebeu a influência das vanguardas europeias como cubismo, expressionismo, surrealismo e futurismo. Contudo, as obras aqui produzidas têm um viés absolutamente nacional. Pode-se dizer que ocorreu o antropofagismo criado por Oswald de Andrade, pois os modernistas "devoraram" os movimentos estrangeiros, deglutiram essas estéticas e devolveram uma arte diferente e original.

A semana de arte moderna e o modernismo rejeitavam o parnasianismo e o academicismo, justamente pelo rigor formal desses dois movimentos. Aqueles jovens artistas ansiavam pelo novo, pelo moderno, isso fez com que eles, naquele tempo, fossem rejeitados, vaiados e criticados, porém o que eles criaram é até hoje sólido.
A inovação do movimento modernista não se limita ao cenário artístico, ela se estende aos costumes, tanto que, em uma época de predominância masculina, Anita Malfatti e Tarcila do Amaral são as figuras centrais do modernismo, este protagonismo feminino era algo inédito no Brasil e no mundo dentro das artes plásticas. É por essa e por outras que a semana de 22 é importante e merece ser festejada.

Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Mário e Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Brecheret são só alguns dos nomes que participaram da semana que nunca terminou. A bem da verdade, o terremoto que aconteceu na madrugada de janeiro de 1922 era só a mãe natureza antecipando o evento que sacudiria as bases da cultura nacional.
Vamos falar de arte brasileira!



Arborização urbana - Onévio Zabot Anterior

Arborização urbana - Onévio Zabot

O pior e o melhor - Roberto Dias Borba Próximo

O pior e o melhor - Roberto Dias Borba

Deixe seu comentário